terça-feira, 31 de maio de 2011

Uma mosca entrou alucinada no elevador.
Todos ficaram felizes.
Finalmente seria possível variar o assunto e parar de falar sobre o tempo.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Miragem

O sapo pulou no tanque.
A água já tinha escoado.
Ficou olhando inconformado.
Oásis de concreto?
Só pode ser coisa de gente.
Pulou nas poças d’água.
Chui chuá.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Amor


Amor com liberdade tem gosto de bolo de chocolate com cobertura.

Pensa comigo:
O menino espera ansioso.
Será que eles vêm?
De repente, o comedouro fica cheio.
O passarinho azul, aquele da cor preferida, espera sua vez no galho do abacateiro.
Sai um, entra outro.
Eles comem, se empurram, resmungam pelo pedaço de banana.
Um é mais guloso e tem um outro que é medroso.
Com o fim da banana eles voam embora.
No dia seguinte, começa tudo de novo.
O menino coloca a banana, espera a visita, dá um frio na barriga...
Será que eles vêm?

terça-feira, 24 de maio de 2011

Azar

Enquanto a passarada disputa a banana no comedouro...
Uma joaninha amarela com bolas pretas passeia pela máquina.
Tímida, não se deixa fotografar.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Visitante

Depois do jantar, sentávamos embaixo da mangueira.
Alguém pegava o violão.
Restava uma cadeira livre na roda.
Por pouco tempo.
Uma perereca se sentava.
Fazia de conta que conhecia a letra da música.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Jacu

Dizem que está em extinção.
No meu jardim, não.
O abacateiro se rende à sua equipe.
São 10 ou mais!
Nem o bico do tucano os assusta.
Nem a espera do sabiá os constrange.
Comem até a última dentada verde.
O bicho do abacate que se cuide!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Filhote

E se o gato pegar?
E se não vingar?
E se adoecer?
E se a mãe morrer?
Nascer é para quem tem coragem. 

terça-feira, 17 de maio de 2011

Seresta

Grilos cantam para receber a noite.
Sem pressa de anoitecer,
Sem pressa para dormir,
Sem pensar na manhã que vem,
Sem querer estar num lugar que não existe.
Shangri-La mora aqui.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Não sei da onde vem,
O canto triste que não para de tocar.
Parece um ninho vazio,
Cansado de pensamento.
Cheio de voz.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Aranha

Ela se agarrou com as seis patas no graveto, como se fosse sua última chance.
O filtro da piscina sugava e cuspia com a fúria de um dragão.
Estava exausta, mas isso não fazia diferença.
Escalou o graveto com a velocidade dos que não sabem se haverá amanhã.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Confissão

A lua me avisou,
Que tem o solo esburacado,
Que empresta a luz do Sol,
Que não promete nada,
Que é cinza.
Fingi que era surda.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Encontro

Na hora do almoço o pantaneiro dorme.
Eu ando de bicicleta.
Um cervo para no meio da estrada de terra e me olha.
Olho para ele também.
Quero brecar, mas a magrela é enferrujada e resmunguenta.
Continuo sem pedalar, devagarinho.
Flertando! Esticando os segundos.
Acariciando a beleza.
Que seja eterno enquanto dure.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Colecionava sementes no quintal.
Chamava-as de nenéns.
Cuidava dos nenéns como se cuida de gente pequena.
Olhava uma a uma e juntava-as num saquinho de pano ou nos bolsos da calça fofa de veludo. 

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Música

Os cantos se misturam e já não sei mais de quem é cada voz.
Maritaca, bem-te-vi, sabiá.
Grilos, que não obedecem o silêncio do sol.
O tucano ainda reconheço.
Ele é o instrumento de percurssão da orquestra.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Chupim

O tico-tico dá de comer e nada de estancar a fome.
Não se zanga.
Incansável, sente orgulho de seu primogênito robusto.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A grama coçava os pés. 
A menina pegou um morango silvestre no arbusto. 
Já ia colocando-o na boca quando olhou mais de perto. 
Deu um grito e o morango voou longe. 
Ela franziu a testa numa careta e esfregou as mãos uma contra a outra, bem rápido. 
Todas as outras vezes, durante a vida inteira, antes de colocar um morango silvestre na boca, ela abriu a fruta em dois e examinou o seu interior para ter certeza de que se tratava de uma casa vazia.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Wet’n Wild

Um vaso de planta ganhou água.
O prato de baixo ficou alagado.
Dois passarinhos fizeram do prato a sua piscina.
Sacudiram corpos, estufaram penas num senta e levanta, pula e balança.
O menino viu a cena e correu para casa!
Pegou uma tigela sem planta, encheu de água e levou para o gramado.
Os passarinhos agradeceram, mergulhando no novo recipiente.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Uma goiabeira na rabeira da avenida.
Lá no galho, duas goiabas nasceram geminadas.
Dentro delas, vida urbana.
Um túnel rompe as barreiras da casca.
Dois bichos de goiaba transitam alegres entre os blocos.
Desfrutam dos benefícios da vida em condomínio.